Saramago e o "Memorial do Covento"

Eu sei que há que não goste de Saramago. Eu sei que há quem o ache arrogante, ilegível, que não faz pontuação, etc, etc. Contudo, eu, na minha modesta opinião, há cerca de 22 anos, que acho este livro, um dos melhores livros que já li. E mais, desde essa época, penso que Saramago é um génio. Portanto, considero, à revelia de alguns, que mereceu, muitíssimo bem, o "Prémio Nobel". Vou deixar aqui uma passagem que me é particularmente cara.
Como se sabe, o Convento de Mafra, foi mandado edificar por D. João V, em cumprimento de uma promessa, feita para que a rainha D. Maria Ana Josefa engravidasse. Ora, para que isso aconteça, o Rei vai duas vezes por semana ao quarto da rainha. Então, depois de terem realizado a função prevista, relata-se o seguinte, ipsis verbis:
"... pairam cheiros diversos na atmosfera pesada, um deles que facilmente identificam, que sem o que isto cheira não são possíveis milagres como o que desta vez se espera, porque a outra, e tão falada, incorpórea fecundação, foi uma vez sem exemplo, só para que se ficasse a saber que Deus, quando quer, não precisa de homens, embora não possa dispensar-se de mulheres."

PS- A fotografia é, como já se sabe, do Luís Monte.