quarta-feira, junho 13, 2007

A minha vizinha Inês

A minha vizinha dos Açores, Inês, é uma das melhores, mais generosas e inteligentes mulheres, que eu conheço. Não, não digo isto por ela me limpar, cuidar e alindar a casa, nem por me abrir as janelas nos dias de sol, pôr colchas e flores à porta, nos dias da procissão. Não, não digo isto por ela me colocar massa sovada, no frigorífico, para eu comer quando chego, nem por me dar carne de vitela frizada, porque tem (diz ela) muita, na arca frigorífica. Não, não digo isto, por me ouvir e dar conselhos e ombro, nem por me telefonar, de vez em quando, a dar-me contas das flores e árvores do quintal. Não, não digo isto, por ela me congelar os araçás, cortados e já com açúcar, para eu misturar com leite e me deliciar, mesmo fora da época. Não, não digo isto, por isto tudo, até porque há muito mais para dizer do que isto que eu digo aqui. Digo, sobretudo, porque ela o faz desinteressada e generosamente. Quando a questiono sobre o assunto, ela diz que somos vizinhas e amigas e que em casa dela foi sempre assim: - É de família, o meu Pai sempre me ensinou a dar sem pensar em receber nada. E conta-me histórias para falar do Pai e de como ele era caridoso, para os que o cercavam, no tempo em que não havia muitas "farturas":-Olhe, vizinha, até lhe vou contar uma coisa engraçada. Quando lhe foi diagnosticada a leucemia e precisou de levar transfusões, nem imagina o número de pessoas que se mobilizaram para lhe ir dar sangue. Um dia cheguei ao Hospital e encontrei lá um amigo de infância, que veio do Canadá, propositadamente para dar sangue para ele. Perguntei-lhe o que estava a fazer ali, e ele disse-me: Inês, tinha que vir, o teu Pai, quando eu era pequeno matou-me a fome muita vez! Eu nunca vou esquecer-me disso. Agora, é a minha vez de fazer alguma coisa por ele!
E é assim, que a minha vizinha Inês me cala, dando-me lições da vida e convencendo-me que a sua generosidade é hereditária. E, se calhar é.

Etiquetas:

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostei muito da descrição que fazes da tua vizinha dos Açores! Pode estar carregada de subjectividade mas, em termos de imagem fornecida, é perfeita!

Também achei muita graça à nova ( se calhar já não é...) modalidade de visitas "on line"- GeoVisite -

8:10 da tarde  
Blogger Francisco said...

Um texto lindíssimo! Uma abraço dos Açores para Coimbra!

9:10 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei muito da tua história, mas há uma coisa que a tua vizinha Inês não tem: Bolbos de orquídeas.
bEIJINHOS, jOCA

9:14 da tarde  
Blogger Rui Coutinho said...

Cada um tem o vizinho que merece, até o Nuno Costa Santos e a sua dona Bina que tanto o inspira.

10:24 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Araçás...que saudades!

11:57 da manhã  
Blogger frosado said...

mas vai ter, acho eu!!!

12:40 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home