A minha tia Rita (e os Santos)
A Minha Tia Rita, que nem sequer se chamava Rita, como já tinha dito aqui, só tinha como horizonte o trabalho braçal, nas terras cheias de milho, batatas e couves e como transcendência, a Senhora da Alegria: era a sua santa favorita e a quem rezou, todos os dias, durante o tempo que os seus quatro filhos, rapazes, estiveram em África, na guerra colonial. Dos outros santos da nossa aldeia, ela não gostava muito, apesar de os usar constantemente nas suas metáforas - S. Tiago, como tinha um bordão com uma cabaça, para ela, era o padroeiro do bêbados, portanto desprezível, e de S. Sebastião, esse nem valia a pena falar, sinónimo de pobreza, porque nem sequer tinha roupa, no seu torturado corpo, crivado de setas - sempre representado com um parco pano, a tapar-lhe as vergonhas. Por isso, quando eu era miúda, e como não gostava de trabalhar no campo e sempre que podia, fugia para me esconder, a ler um livro, ela não me augurava nenhum bom fim. Olhava para mim com comiseração e dizia: ai rapariga, nunca vais ter nada na vida, vais ter tanto como o S. Sebastião tem de calções! Passei toda a minha adolescência, aterrorizada, por causa destas previsões e ainda hoje, quando vejo algum S. Sebastião, me lembro com receio, das palavras da minha Tia Rita e lá vou comprar mais uns trapitos, só para prevenir!
5 Comments:
Ana, acredite! eh!eh!eh!
Só agora percebi porque é que moro na praceta de S. Sebastião!
Mas que desculpa! Só mesmo tu.
lol
Estou com o Maracujá!
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