(Histórias de Almalaguês) O meu tio Alfredo Santos (Lela)
Quando ele, ainda rapaz novo, mas já precedido de fama de conquistador, se atreveu a ir a casa da minha avó Maria, pedir a mão da minha tia Maria de Jesus, a minha avó perguntou-lhe:-casar contigo, a minha filha? Contigo só se for para morrer de fome! Tu namorador bailarino (era assim que ela lhe chamava), que não tens onde cair morto, tu que namoras com todas, que passas a vida nos bailes a tocar e dançar, como vais sustentá-la?
Ele respondeu-lhe: nunca faltou casa a vivos, nem cova a mortos!
Mas, como era de prever, lá casou com a rapariga. Trabalhou como um louco para a sustentar, a ela e aos cinco filhos, que entretanto foram nascendo, mas naqueles tempos de miséria e de fome, trabalhar a terra, não era suficiente para suprir as necessidades daquela já tão numerosa prole. Então, embarca para o Brasil, mais propriamente para o Porto de Santos, onde trabalha como estivador, durante longos anos. Ele dizia (entre outras coisas menos sérias, que eu não vou reproduzir aqui) que pelas costas lhe tinham passado toneladas e toneladas de café. Eu acredito. Quando voltou à aldeia, com um bom pé-de-meia (rico, comentava-se por lá), continuou a trabalhar, mas também a bailar, a comer e a beber bem, mas, sobretudo, a olhar para as raparigas novas, com aquele ar de predador que tanto o caracterizava! Foi sempre um homem de força, muito alegre e bem disposto! Ainda o estou a ver, já pelos seus setenta e muitos anos, alto magro, com um rosto vermelhusco, com um ar de malandro a olhar para as raparigas e a mandar galanteios. Pelas histórias que ele contavam, das suas aventuras, lá pelos Brasis, era uma lenda para os meus irmãos e para os homens em geral. Mas as mulheres da aldeia diziam: - É um galo doido! Sempre foi! Com os pés para a cova e continua doido! Só a morte é que o vai curar!
Mas, como era de prever, lá casou com a rapariga. Trabalhou como um louco para a sustentar, a ela e aos cinco filhos, que entretanto foram nascendo, mas naqueles tempos de miséria e de fome, trabalhar a terra, não era suficiente para suprir as necessidades daquela já tão numerosa prole. Então, embarca para o Brasil, mais propriamente para o Porto de Santos, onde trabalha como estivador, durante longos anos. Ele dizia (entre outras coisas menos sérias, que eu não vou reproduzir aqui) que pelas costas lhe tinham passado toneladas e toneladas de café. Eu acredito. Quando voltou à aldeia, com um bom pé-de-meia (rico, comentava-se por lá), continuou a trabalhar, mas também a bailar, a comer e a beber bem, mas, sobretudo, a olhar para as raparigas novas, com aquele ar de predador que tanto o caracterizava! Foi sempre um homem de força, muito alegre e bem disposto! Ainda o estou a ver, já pelos seus setenta e muitos anos, alto magro, com um rosto vermelhusco, com um ar de malandro a olhar para as raparigas e a mandar galanteios. Pelas histórias que ele contavam, das suas aventuras, lá pelos Brasis, era uma lenda para os meus irmãos e para os homens em geral. Mas as mulheres da aldeia diziam: - É um galo doido! Sempre foi! Com os pés para a cova e continua doido! Só a morte é que o vai curar!
Nota: É o segundo na outra foto. Este post é uma homenagem que lhe quero prestar, quero também agradecer ao meu primo Artur, (neto do Alfredo Lela), as fotos!
7 Comments:
O texto, não sei se por causa do Brasil, fez-me relembrar Jorge Amado no seu romance "D. Flor e os seus dois maridos"...
Onde,
Florípedes, a D. Flor do título, vê partir para sempre o seu Vadinho, malandro incorrigível, em pleno domingo de Carnaval a dançar...
olha que as histórias que ele contava, não eram mais edificantes que as do Vadinho....
Tinha uns lindos olhos!
Andaste de fim de semana?
gostei bastante de conhecer esta história...um viva ao tio don juan...
beijos
Há uns casos assim na minha família... ;)
E é assim que o mundo se vai enchendo de gente. Ainda bem, senão as escolas fechavam! ah ah ah! :)
Obrigado Fátima
Sou, como sabes, tb um grande admirador da personalidade do meu avô Alfredo Lela, também conhecido por “Rafa”.
Não há dúvida q a ida para o Brasil proporcionou-lhe uma abertura de espírito que, infelizmente, não teve continuidade nos filhos ;-).
(Agora num tom menos romântico)
Considero q a decisão de emigrar para o Brasil e que coincidiu precisamente com o período da 2ª Grande Guerra, marcou para sempre a vida e o carácter desta família. Podemos apenas fazer uma pequena ideia do sofrimento de uma mulher a ter de cuidar de 5 filhos nesses tempos de grande privação e miséria.
Fiquei também com a ideia que os filhos, que na altura da partida tinham as idades de 1, 3, 5, 7 e 9 anos, nunca lhe perdoaram, em vida, este "abandono". Para eles, é a minha avó Jesus a grande heroína desta história. Mas, no fundo, todos sabem que ao meu avó não lhe restavam alternativas.
Grande beijo do primo
Artur Anastácio Santos
Pois é Artur, as mulheres das nossas Terras, são, eram, acho eu, que já não são, "Mulheres de ficar"
Enviar um comentário
<< Home