terça-feira, outubro 17, 2006

Ora deixem-me cá pensar: a crise acabou

e a electricidade vai aumentar, cerca de 15, 7%?Isto terá alguma coisa em comum? Ora bolas, e eu a pensar que era a pensão dos aposentados!

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Só a electricidade???!!!!...

Minha amiga
A tua "bondade" ultrapassa largamente a do sr. ministro!

4:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

SÓ NÃO CONTARAM AO LA FONTAINE DE VALHELHAS…

É verdade! Por mais incrível que pareça, mesmo para aqueles que não acreditam na reencarnação, uma fabulosa revelação acaba de ser feita aos portugueses e o que é mais engraçado é que eles não deram por ela! Ela, revelação, pois! Desde sempre fomos habituados a pensar na França quando, por qualquer motivo, era referido o nome de La Fontaine – sim, o homem das fábulas, como “A cigarra e a formiga”, “A raposa e as uvas”, “A rã e o touro”, “O homem e a pulga”, “ O lobo e o cordeiro” e tantas outras que fizeram as delícias da infância de inúmeros portugueses da minha geração e de outras. Serviam também para tirar - e dar - lições de moral, aplicadas aos comportamentos inadequados dos meninos e das meninas. O próprio autor dizia: “Convém que as crianças se alimentem de fábulas ao mesmo tempo que sugam o leite… Não há outro meio de acostumar desde muito cedo à sabedoria e à virtude. Em vez de sermos obrigados a corrigir os nossos hábitos, melhor será conseguir torná-los bons enquanto são indiferentes ao bem e ao mal”. Quantos homens das letras portuguesas, não traduziram e adaptaram essas deliciosas fábulas? Bocage, João de Deus, Teófilo Braga, Gomes Leal… Até Bulhão Pato (no intervalo dum saboroso cozinhado de amêijoas) se foi a elas – fábulas -, isto para não falarmos de brasileiros como Machado de Assis e outros reputados intelectuais. Bem sabemos que a temática das fábulas provém, originalmente, de remotas paragens orientais, mas mestre La Fontaine soube como ninguém transmitir-lhes a beleza que a sua escrita ímpar eternizou. Os séculos foram-se sucedendo e eis que….

Valhelhas, 1953. Nasce a 4 de Fevereiro um menino, lindo como todos os meninos que nascem na linda Serra da Estrela. Valhelhas, freguesia histórica, rima com orelhas, com relhas, com Mijavelhas, sei lá, a bem dizer rima com quase tudo. Mas também rima com ovelhas. E foi com ovelhas e outros animais igualmente simpáticos que esse menino cresceu. Nos terríveis Invernos da Serra, sopra o vento com violência e a neve, caindo, tudo cobre. Outros animais geralmente menos apreciados, como ratos e ratazanas, moscas, sapos, melgas, escaravelhos, traças, baratas, fazem também pela vida em Valhelhas, procurando aguentar os meses mais difíceis, à espera da Primavera que há-de trazer o grão, a fruta, o chope-chope, enfim. Convivendo com os prodígios da natureza, o menino cresce harmoniosamente. Quando faz dezassete anos, deixa Valhelhas para trás. Outros horizontes, plenos de promessas de um futuro radioso, o esperam!





Lisboa, capital do império colonial, princípio dos anos 70 do século XX.
O menino já crescido inicia o seu curso superior estudando, “marrando”, que o tempo não está para brincadeiras – quem perde o ano arrisca-se a entrar de imediato para o serviço militar, igual a mobilização para o que então se chama ultramar. Outros meninos, muitos meninos, por isto ou por aquilo, é lá que vão parar com os costados e se não voltam em caixão de pinho é porque não calha ou porque desertam para as Franças. O nosso menino, esse não. A sua dedicação aos estudos leva-o cada vez mais alto. Quando num belo dia de Abril, as cornetas tocam a liberdade, tem já vinte e um anos – é um homem! Depois, durante outros vinte anos, a história é omissa. Vamos reencontrá-lo em 1994 como presidente do CSEP – Centro de Estudos de Economia Portuguesa, ena! A partir de então, upa, upa! Ele é Conselhos de Administração, Conselhos Científicos, professor universitário, investigador, eu sei lá que mais! Até que, já em 2005, não a tal cereja mas, nada mau, a ginja no topo: Secretário de Estado Adjunto da Indústria e da Inovação! No dia da tomada de posse, quem pode reconhecer nele o menino de Valhelhas, aquele menino lindo que brincava com as ovelhas? Está velho pr’á idade, o cabelo pouco e branco, mas feliz. Assina, com mão firme ainda, o compromisso governativo e volta para o seu lugar com ar satisfeito. Durante os quinhentos e setenta e oito dias seguintes não se ouve falar dele, até que numa chuvosa terça-feira de Outubro, o seu inconfundível sotaque beirão troa através dos microfones dos jornalistas e chega a casa dos portugueses. Milagre! Eis de novo a lição de “O lobo e o cordeiro”, centenas de anos passados! António (ou Toninho, para os mais íntimos), explica – sem se rir - que a culpa dos balúrdios anunciados a somar aos custos da electricidade a partir de Janeiro é, não do macaco, como no filme dos irmãos Marx, mas, sim, dos consumidores que não reclamaram à EDP os aumentos devidos nos anos anteriores! E para quem duvidar da justeza de tão cintilante raciocínio, lá está a verdade da fábula: “Se não foste tu, foi teu pai!”. Eis a prova final!

Ai, Toninho, Toninho (passámos a ser íntimos, depois da TV)…Olha: ou provas que és mesmo a reencarnação do La Fontaine ou ainda vais ver o teu chefe, o Manel, a desdizer-te. Não percebeste nada. Aquilo dos 15 virgula 7 era a mangar, só para ver o efeito: depois passa para metade, que é pr’á “cambada” engolir o fabuloso desconto no aumento, topas? Pronto, deixa lá, não fiques triste… Afinal, quando voltares para Valhelhas, mandas o caseiro aquecer a casa a lenha, que é de borla – é só ter quem a apanhe caída das árvores. E no remanso do velho lar, passando os olhos pelo Financial Times à luz da vela, ainda hás de distraidamente pensar com os teus botões: “E não é que não percebi?”

12:03 da manhã  

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