Sossega, coração! Não desesperes!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa, 2-8-1933.
PS - Morreu a 30 de Novembro de 1935. Sossegou finalmente um coração desassocegado - Fernando Pessoa o poeta, e todos os seus heterónimos: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e ainda de Bernardo Soares e Alexander Search.
3 Comments:
Um génio maltratado e desprezado no seu tempo. Glorificado décadas depois.
Como sempre acontece aos "grandes", não havendo maneira de as gerações perceberem, em tempo útil, quem são os seus maiores e honrá-los como tal.
Ah...esqueci-me de referir que estou a pensar em Portugal...
Será que sossegou? Confesso que penso muito nisso. Não sei se as pessoas sossegam quando o coração deixa de bater. Gostava de ter a certeza.
Pode ter a certezinha.
Quando o coração deixa de bater o corpo sossega, arrefece, defina-se...
Vai-se e ...esvai-se. O que ficou foi a Poesia.
Portanto, nestas coisas, quanto mais tarde melhor!
Não há "ir e voltar". Isso é para o mar!
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