António Lobo Antunes - (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)
Atenção, não foi nenhuma feminista furiosa que escreveu este Texto, mas sim o António Lobo Antunes! Já conhecia esta pequena pérola, mas agora foi-me enviado pela, "grande colaboradora", Cristiana Tourais. Obrigada, mais uma vez.
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sózinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.
3 Comments:
Genial.
É mesmo assim...
Já tinha lido algures, mas não me lembrava de quem era. Está fenomenal...e daí que conclui-se que de facto o homem nunca poderia dar à luz.
Muito obrigado pelo excelente poema da Florbela Espanca.
Esse teu baú de poesia parece interminável...há sempre um para cada ocasião.
Bom fim de semana.
É sempre bom partilhar estas coisas com pessoas com a sensibilidade da Fátima.
Cristiana
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