Estoril Jazz - ou as mãos do contrabaixista

Eu gosto de Jazz. Não, pertenço aquela "fauna" restrita dos que conhecem tudo sobre o assunto. Esses, como são poucos, são sobejamente conhecidos. Estão em todos os espectáculos e falam do Jazz como se fosse uma religião. Eu, como diz o outro, sou praticamente "analfabeta de pai e mãe", sobre o assunto. Claro que vou a alguns espectáculos, ouço CDs e ouço-os com prazer, sobretudo quando são de blues. Isso sim, adoro blues. Mas há coisas que me fascinam nas actuações dos diferentes grupos de Jazz (eu sei que vai parecer "maluqueira", mas o que é que eu posso fazer?).
Não, não é o "grito" arrebatador do saxofone, nem a energia rítmica do baterista e nem o dedilhar melodioso do pianista. O que atrai a minha atenção como um íman, o que me faz ficar ali de olhos fixos, absolutamente rendida, são as mãos do contrabaixista. Adoro ver como este enlaça o instrumento com os dois braços e depois tange com os dedos das mãos, aquelas quatro cordas, arrancando-lhe sonoridades diferentes. Tenho sempre a sensação de que aqueles dedos têm vida própria, como se dançassem uma estranha e melodiosa dança. Foi assim, também esta noite, um deslumbramento, ao ver as mãos de Dave Holland.