sexta-feira, setembro 11, 2009

O teu Channel nº 5

Quando tu partiste, há cerca de dez anos, ofereceram-me os teus perfumes. Eu aceitei. Era qualquer coisa teu, intimamente teu, que ficaria na minha posse. Mas, ao princípio, nem conseguia olhar para eles, guardei-os numa gaveta, e deixei passar os anos. Nunca os usei. Não sou capaz. Aqueles perfumes são coisas tuas, muito tuas, e eu, preservo-os, assim como uma relíquia. Agora já consigo olhar para eles, pegar neles, cheirá-los de vez em quando, talvez, na esperança de encontrar, ainda, qualquer coisa de ti. Às vezes pego no Channel nº 5 e penso que ele tem tudo a ver contigo, com a mulher sensual e vaidosa que tu eras, apesar de sóbria e contida. Claro, tu eras nova, muito nova e naturalmente vaidosa da tua beleza e da tua juventude. Sim, tu eras assim. Depois, fatalmente, vem-me à lembrança aquela história de um dia terem perguntado à Marilyn Monroe o que é que ela usava para dormir e ela ter respondido: "apenas duas ou três gotinhas de Channel Nº 5". Tu conhecias a história, e eu imagino-te a sonhar ser tão sedutora e desejada como ela era, e, provavelmente, foste. O problema é que, tal como ela, embora de outra forma, a tragédia bateu-te à porta, a ti, precisamente a ti, que eras tão alegre e feliz e que tinhas tudo, ainda, a esperar da vida. Tinhas casado com o homem da tua paixão e quando nasceram os teus filhos, eras uma Mulher no pleno da sua felicidade. Os miúdos eram lindos e inteligentes e tu eras nova demais, para aceitar aquilo que se abateu sobre ti. Tinhas apenas 33 anos e dois filhos pequeninos, esperavas tudo, menos aquele diagnóstico terrível. Depois, foram três anos de muito sofrimento, mas também de muita luta, mas, mesmo assim, partiste. Ficaram os teus filhos. Lembro-me do dia em que entre lágrimas, me pediste: "não os abandones". Não, tanto quanto eu puder, não os abandonarei, podes crer. Tenho com eles e para mim, esse compromisso sagrado: contra tudo e contra todos os dissabores, estou sempre ao lado deles. Já o provei e não me arrependo nada. Nada mesmo. Eles merecem. São uns garotos fantásticos. Terias orgulho neles, Cristina. Eu tenho.

5 Comments:

Blogger Unknown said...

Lindo e tocante, como sempre


Continue a escrever para gáudio dos leitores Um abraço Fátima

10:50 da tarde  
Blogger frosado said...

Obrigada Elsa

11:12 da tarde  
Anonymous Bruno Rosado said...

Tia, essa vêm mesmo do fundo do coração. Só mesmo tu.
O Tempo passa tão depressa já foram 10 anos.

1:36 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Amiga,acredita que as tuas comoventes lembranças expressas de modo tão sentido me trouxeram lágrimas(agora tão raras)e também eu relembrei a doce Cristina.Quanto ao teu propósito só quem não te conhecer é que duvida.Nunca mudes o que ÉS!
Ivone

9:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É, de facto, uma história de vida de verdade e verdadeira. Ceifada que foi precocemente, essa Mãe, soube pedir quando escolheu a quem entregar os filhos. Cumprirás à risca o pedido , sei-o bem, ainda que te façam remar contra ventos e marés. Ela sabia a quem pedia.És merecedora de admiração pela forma como o tens sabido e conseguido fazer.rc

1:08 da manhã  

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