As pessoas adoram falar de doenças
Não sei se os outros povos são assim, mas os portugueses adoram falar sobre as suas doenças. Sobretudo os mais velhos, acho eu. Dado que tenho uma vida bastante sedentária, faço ginástica/hidroginástica, quatro vezes por semana, numa tentativa de manter uma mobilidade mais ou menos saudável. No Balneário, delicio-me a ouvir as conversas dos meus companheiros de "equipa", que embora seja constituída por pessoas de todas as idades, desde jovens de dezoito anos, até à Dona Judite que tem noventa e dois anos, predominam os mais velhos. Só se ouve falar de doenças: lombalgias, artrites, artroses, bicos de papagaio, epicondilites, torcicolos, pontadas, escolioses, lordoses, insónias, náuseas, tonturas, dormências, diabetes, etc.. Não há ali outro tema.
Minto, há - também falam dos médicos e das dosagens dos medicamentos: Ando tão mal, que o meu médico até me aumentou a dose! Já estou a tomar dez comprimidos por dia! E é porque não posso tomar mais anti-inflamatório! Tenho uma úlcera terrível!
Ah! É verdade, ainda fazem outra coisa - levam as embalagens vazias dos medicamentos e unguentos e trocam entre si, informações sobre a excelência deste ou daquele.
Bem, eu, também tenho umas maleitas, mas é coisa pouca!!! E vocês, estão cheios de saudinha?
Bem, eu, também tenho umas maleitas, mas é coisa pouca!!! E vocês, estão cheios de saudinha?
7 Comments:
a propósito, sempre que visito a minha avó e ela me pergunta como ando, digo-lhe sempre estou óptimo!, ela responde-me assim: dentro dos possíveis não é filho?... como se para ela não fosse natural estarmos óptimos. Isto é muito revelador da nossa cultura da dor... para os portugas, a dor tem conotação de sensibilidade e inteligência... as pessoas alegres são todas libertinas, lol
Acho bem gira essa tua ideia, mas penso que tem, também, a ver com a solidão, com a necessidade de chamar atenção, e sobretudo, com o medo de ser feliz (como uma forma de esconjurar as possíveis fatalidades, do tipo: "cala-te boca, que pode dar azar!). Será?
E outra coisa que também acho piada, certas pessoas expõem as suas doenças como um troféu, e até ficam chateadas se não damos sinais de que consideramos uma doença como um direito adquirido à nascença.
julgo k além dos ingredientes já referidos há tb a relativa disponibilidade (de certa forma, o ócio) das pessoas em causa, dada a sua faixa etária a contribuir significativamente para este «cramar» (léxico madeirense k ekivale +/- a keixar-se) compulsivo...
e a terrível falta de auditório k grassa 1 pouco por td a parte, mas c/ >s ecos nestas solidões...
aline
É, concordo com o Vitor e Fátima. Eu regra geral nunca tenho nada que mereça ser reproduzido em voz alta. Minha mãe fica "doente" comigo e diz que sou muito despreocupada, que sou uma cabeça no ar e que ainda apanho alguma coisa! Vai-se entender isto? :)
Se não tenho nada não vou inventar só para ter algo em comum com os outros.
Sim, acho que tem muito a ver com a solidão. Essa troca de maleitas em conversas funciona como um "dá-me um consolozinho". Mas se alimentada demais pode criar hipocondríacos.
Fátima
Por motivos pessoais e profissionais tenho andado um pouco arredada...mas estas tuas observações estão muito bem apanhadas...
E agora constato que o fruto da flor da paixão que em anterior "post" colocaste, também está como eu...
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