segunda-feira, novembro 12, 2007

o papão, o homem do saco e o medo

Quando eu era pequena, lá na minha aldeia, existiam umas entidades mais ou menos obscuras, mais ou menos difusas, mas absoluta e completamente presentes, na linguagem e na vida das crianças: o papão, o homem do saco e o medo. Mas quem eram estes personagens? Hoje, e pensado nisso, acho que, naquele tempo, em que não havia ainda a pílula e em que as crianças eram mais que muitas, e em que não se falava sequer da necessidade de psicólogos, nem de pedopsiquiatras, e nem de pedagogos) eram uma espécie de travão com que os pais e avós (dado que também não havia creches) controlavam os filhos e os netos: Não vás para aí que vem lá o papão! Anda cá, olha o medo! Olha que o homem do saco te vai levar! Nós, as crianças, sobretudo as mais timoratas, tremíamos só ao ouvir estas exclamações e lá procurávamos refúgio nos braços dos pais ou dos avós. Depois, quando chegava a noite e a hora de dormir, as canções de embalar tinham que nos devolver a paz e a tranquilidade perdidas, e, normalmente, devolviam. É por iso que, ainda hoje, apesar dos medos e papões terem mudado de "aspecto", quando tenho medo, e tenho, como toda agente, lembro-me sempre da voz da minha Mãe a cantar, para mim ou para os meus irmãos:
Ó papão vai-te daí
De cima desse telhado
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado

Dorme, dorme, meu menino
Que a mãezinha logo vem;
Foi fazer uma visita
À Senhora de Belém

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2 Comments:

Blogger FERNANDINHA & POEMAS said...

Olá, Linda postagem.
Parabéns.
Beijinhos,
Fernandinha

8:41 da tarde  
Blogger Rui Coutinho said...

Pois, eu só não conheci o homem do saco. De resto, o papão, o diabo e a eterna dúvida entre o inferno e o purgatório, moía-nos os miolos. Penso que o gozo de os contrariar e desmontar as patranhas é que nos dava forças.

10:37 da manhã  

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