Como de costume, já estou cansada da Selecção. Eu e uma data de gente, que não se revê naquele folclore eufórico, bacoco, repetitivo e maçador. Eu até gosto de futebol, gosto da festa do jogo, da alegria explosiva do golo, mas, irrita-me a construção fictícia das expectativas: antes dos jogos somos sempre campeões, (“porque não?” Dizem os jornalistas, analistas e até alguns jogadores) depois do jogo, ou dos jogos, bem, depois, ou foi azar, ou foi o árbitro, ou foi... mas, o pior de tudo, é assistir à preparação, aos treinos, às entrevistas, ao devassar da vida dos jogadores, armado em heróis, e às múltiplas repetições, para além do jogo propriamente dito. Enfim, um massacre dado em directo e em diferido, todos os dias, a todas as horas e em todos os canais. Contudo, outro dia, assisti a uma coisa que me aplacou - Cristiano Ronaldo foi visitar o Serviço de Pediatria do IPO de Lisboa. Crianças com cancro. Fiquei rendida. Não é fácil para ninguém, mas, ele, esteve lá mesmo, com os meninos e meninas. Normalmente, estas situações são muito dolorosas e as pessoas defendem-se, não indo visitar os doentes, como se a dor delas fosse maior do que a dos enfermos. Mas ele não se defendeu. Ele tocou-as, beijou as meninas e pediu-lhes mais beijos, acariciou as cabecinhas carecas dos meninos, ouviu-as, quis saber dos seus sonhos, encorajou-os e até soltou uma sonora gargalhada quando um menino disse que esperava que ele viesse jogar para o Benfica. No fim, aos jornalistas, declarou que perante aquelas crianças, tinha aprendido muito: não é fácil, repito e não deve ser gratuito. Ele, ali, não foi. Não foi vedeta, não foi herói, não foi craque, foi um jovem inteligente e sensível que, àquelas crianças doentes, deu bolas, mas, sobretudo, ternura e esperança. Por isto tudo, Cristiano, podes (mas não deves!) falhar todos os golos na selecção, que não serei eu a condenar-te.
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