sábado, abril 30, 2005

Muciro Milagroso


Mulher da Ilha de Moçambique, com o rosto coberto com uma máscara de beleza, feita à base duma raíz chamada Muciro, que, segundo elas, torna a pele muito mais macia e bela. (foto da Mitó)


Muciro milagroso

Hoje, estou assim,
não me apetece fazer nada,
a não ser pegar em muciro
fazer um creme,
colocar a máscara.
Depois, esperar com calma,
pode ser, quem sabe?
que me tire as rugas da cara
e me amacie a alma.

quinta-feira, abril 28, 2005

Hoje apetece-me: Carlos de Oliveira (3)

Chama
Versos
e lágrimas, deixai-me
incendiar
o reino da memória
entrançar
o cabelo
pela última vez
à imagem desolada
que tanto me enleou
no seu amor
e arder
ou achar enfim
repouso
Carlos de Oliveira

quarta-feira, abril 27, 2005

Açores - é claro que chove, mas...


Toda a gente sabe que eu sou Açorianófila, mas tenho os meus motivos! Conheço os Açores há cerca de trinta anos, vou lá, normalmente, uma ou duas vezes por ano e passo lá mais ou menos um mês. Devo confessar, honestamente, que vou sempre contente (podia ir para outro lado), e que, quando lá estou, e vejo aquele "marzão" tão azul, (ou cinzento), aquelas montanhas de criptomérias, tão verdes, e sinto aquele ar tão despoluído, que me permite captar todos os verdes, aquela paz das lagoas, aquele silêncio das furnas, à noite, aquelas estradas e caminhos, ladeados por hortênsias, sinto que sou privilegiada por estar ali.
Tudo isto, vem a propósito do texto que o Pedro Arruda escreveu aqui, sobre o turismo nos Açores. É claro que já apanhei lá, as maiores borrascas da minha vida, mas também as melhores férias, quando está a chover e não posso apanhar sol, vou para a piscina das furnas, que tem uma maravilhosa água quente: é um prazer enorme, para mim, estar mergulhada em água quente, quentíssima (se eu quiser) até ao pescoço, e ter chuva a cair em cima da cabeça. Outras vezes, tento ir para outro lado da ilha, onde haja sol (eu sei que às vezes não há). Depois, nos Açores, está uma grande parte dos meus melhores amigos e amigas, quem não tem um amigo Açoriano, não sabe o que perde. Tenho amigos que queriam que eu não saísse de casa deles.
Quando eu chego, a minha casa está florida, como se eu tivesse lá estado no dia antes, e as minhas vizinhas, guardam-me a casa, chamam-me vizinha e eu gosto delas e elas de mim! Depois, e para mal dos meus pecados, e aumento do meu já exagerado peso, gosto da carne, do leite, do queijo, da manteiga, de cracas, de lapas, de cozido, de polvo assado, massa sovada, bolos lêvedos, etc, etc, etc. (ai de mim!!!)
Viúva, vai sem medo para os Açores, podes apanhar chuva ou não, mas vais gostar, e já te aviso: o grande problema dos Açores é que vicia, quem vai uma vez quer sempre voltar!

terça-feira, abril 26, 2005

Las Meninas


"Las Meninas" (1656)
Museu do Prado/Madrid
AUTOR: Velasquez
Inicialmente chamada "A Famí­lia de Filipe IV", é desde 1834 conhecida como "Las Meninas", vocábulo de origem portuguesa, que designava as acompanhantes das Infantas. Pintura controversa, objecto de culto e estudos vários, recriada por pintores tais como Picasso (1957), Witkin (1982), Salteiro (2004). Foucault dedicou-lhe um ensaio de referência (As Palavras e as Coisas). Foi chamada Teologia da Pintura (Lucas Jordan, séc. XVII). É uma das obras mais fascinantes da Arte Ocidental. Representa a chegada da Infanta Margarida, acompanhada por aias, perro e outros visitantes, A presença dos reis Filipe IV e Mariana. A princesa, de aparência frágil, é claramente a figura central, parecendo fixada em algo externo ao quadro, negligenciando a oferta da aia ajoelhada. No lado esquerdo do quadro, vê-se a parte detrás duma tela e Velásquez empunhando os seus instrumentos de trabalho, olhando o modelo, como se nos olhasse, numa atitude de reciprocidade entre pintor e espectador. Assim, somos ao mesmo tempo, acolhidos e expulsos, substituí­dos por algo que lá estava antes de nós: o próprio modelo, (os reis, foco real da pintura), que numa jogada ardilosa do autor, é inserido/revelado, num reflexo ao fundo da sala, através dum espelho, que não pode existir como reflexo do espaço real (Foucault).
A luz que ilumina a pintura percorre a sala da direita para a esquerda, levando o olhar na direcção do pintor e o modelo na direcção da tela. Esta luz, ao iluminar o pintor torna-o visível ao espectador. Ao fundo da sala, ao lado direito do espelho, junto a uma porta aberta, nota-se a figura do aposentador, que, parado por instantes, parece observar a cena.
Segundo Gombrich, Velásquez fixou um momento real de tempo, muito antes da invenção da máquina fotográfica.
(Las Meninas em 1496 caracteres, tal como foi publicado no Suplemento de Cultura, do "Açoriano Oriental"

Hoje apetece-me: Miguel Torga (2)

Ainda no rescaldo do glorioso 25 de Abril, e em resposta a MGS, que faz um comentário aqui, sobre a Liberdade, concordo que a Liberdade, no sentido absoluto, não existe, mas acredito que é uma utopia pela qual vale a pena lutar e viver.
Por isso, lembrei-me de Miguel Torga (1907/1995), um grande defensor da Democracia, um grande poeta e médico, que estudou e viveu em Coimbra e que escreveu belos poemas obre a Liberdade. Hoje apetece-me este:

Conquista
Livre não sou, que nem a própria vida

Mo consente
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga

Uma Ilha para ti


Para o Luís, que veio de S. Miguel, mas sem nunca largar a Ilha e que tem tentado ensinar-me a olhar os horizontes. A maior parte das vezes reclama do resultado, outras vezes condescende e diz: vá lá, não está muito mal!

segunda-feira, abril 25, 2005

A Liberdade é uma flor de todas as cores!


Porque o 25 de Abril merece toda a alegria dos nossos corações. Estas flores são para aqueles que sentem essa alegria, e para os outros também!

rosas de porcelana!

não sei o nome!

Acácia Rubra

domingo, abril 24, 2005

Viva o 25 de Abril!


Porque festejo o 25 de Abril?

Porque fomos obrigados,
Por mais de uma década
A uma guerra estúpida e injusta
Onde muitos dos nossos jovens morriam
Ou vinham estropiados
Porque as mulheres andavam de luto
Porque os meus irmãos estavam na tropa
Porque o meu Pai era chamado,
Na altura das eleições
Pelo "presidente da junta de freguesia"
Para lhe lembrar onde ele devia votar
Dado que era funcionário público
Porque tínhamos de falar baixinho
Das coisas que queríamos para o nosso País
Porque eram proíbidas reuniões,
Certos livros e canções
Porque não tínhamos eleições livres
E estávamos isolados a nível internacional
Porque os PIDES andavam por toda a parte
A espiar a vida das pessoas
Porque alguns dos nossos amigos
E colegas, eram presos
E sobretudo, porque a Liberdade
A Liberdade, a Liberdade!
É um dos mais essenciais valores humanos
Enfim, é por estas e por muitas outras razões


Nota: Eu não tinha cravos e roubei-os daqui, espero que estes simpáticos e talentosos rapazes não me levem a mal.

Eu gosto de embondeiros


O principezinho recomenda que não devemos deixar crescer muitos! Vou ter cuidado!

Flor do embondeiro


O embondeiro dá uma flor lindíssima que parece feita de papel.

Praia das conchas em S. Tomé.


O embondeiro, talvez pelo enorme volume que chega a atingir, é considerado por alguns povos, a árvore da vida.

Esta foto é para o Francisco porque me indicou o programa, que eu devia instalar, para colocar fotos. Obrigada!

sábado, abril 23, 2005

Hoje, é dia do livro! Leia por favor!


Ler

O supremo prazer
é ter um livro para ler,
em qualquer sítio.
Pode mesmo ser,
deitado na rede,
em frente do mar,
numa praia distante,
ou numa mais perto,
mas leia,
em casa ou na rua,
porque ler,
é que está certo.
FR

Parabéns aos Noivos!


Hoje, estou de festa, casam-se o Pedro e da Ana. O Pedro, que conheço desde menino, é do melhor que há: como pessoa, como amigo e como profissional. A Ana, embora não a conheça tão bem, parece-me muito "fixe". Oxalá sejam felizes! A fazer fé nos indícios: inteligentes, sóbrios, trabalhadores, amigos e discretos, serão de certeza. Além disso, está a chover, o que, como reza a tradição popular, é um indício de felicidade! Os pais do noivo, (sobretudo a minha amiga Aline), estão a loucos por ser avós! Parabéns a todos! E eu, estou muito feliz por poder usufruir este momento convosco.

sexta-feira, abril 22, 2005

Um dia destes publicarei o cardápio!


Eu hoje, estou assim, a cozinhar para os meus amigos. Faltas tu! Sinto muito a tua falta, mas a vida é assim, partiste outra vez!
Não nos esqueceremos de brindar por ti!
Este desenho foi cedido por este genial desenhador, aconselho uma visita. Acreditem que vale a pena!

A Lava do Pico


No Pico, pode-se fotografar a lava, com os seus caprichosos sulcos. Maracujá, tu que és especialista, espero que me confirmes que isto se chamam sulcos. Eu sei que isto tem nomes técnicos, mas vou saber disso!

O Pico visto de S. Jorge


Li aqui que a Tap já voa de Lisboa para o Pico! Que bom! Fernanda, um dia destes, já sabes! A primeira vez que fui ao Pico, foi no ano de 1975, com a Fernanda Serpa, a minha primeira amiga Açoriana! Voei de Lisboa para o Faial e depois apanhámos a Espalamaca para o Pico. Tenho lá voltado com regularidade. O Pico é fascinante, e o pico do Pico é misterioso e imponente, como uma seta de rocha, que irrompe do mar e se dirige ao céu! Além disso, caso não saiba, é o ponto mais alto de Portugal, mas não é só isso, vá conhecer pelos seus próprios olhos!

quinta-feira, abril 21, 2005

Rosas de Porcelana (S. Tomé)


Para o Ricardo Mota, que, com a sua amizade, tornou a nossa estadia em S. Tomé, nuns dias inesquecíveis.

Para os meus Mestres!


Acho que já aprendi! Obrigada ao André e à Clara. Esta foto é-lhes dedicada.

Chá da Gorreana


Plantação de chá, foto dedicada à viúva negra

Tenho saudades destes fetos!


A vaca não está louca, está só a descansar!

Tenho saudades destes "fumos"

Dolce Vita?

Abriu um novo espaço comercial, em Coimbra, chamado Dolce Vita. Muitas e grandes lojas, muitas salas de cinema, muitas escadas rolantes, e os "Coimbrinhas", passeiam-se por lá, contentes, com ar de Europeus. Ouvem-se comentários: está tudo muito bonito! Agora sim, temos aqui lojas e marcas que não havia!
Os outros areópagos da cidade estão, por agora, mais vazios.

quarta-feira, abril 20, 2005

Hoje apetece-me: Rosinha Minha Canoa

Eu ia para dizer que, hoje, estou como o tempo, mas não digo, senão os meus amigos, que lessem isso, ficavam a pensar: o que é que ela agora tem?
Não tenho nada, pronto, estou bem, só não sei colocar fotos no blog, é isso, mas não há crise nenhuma. A Clara vai-me ensinar e o André, desde que eu publique uma foto do Mantorras no Blog, volta cá a casa...
É um preço alto, eu sei, mas eu compreendo o André, sem S. Mantorras o "glorioso SLB", como ele diz, estava na pior, pode ser que eu me safe entretanto.
Bem, mas dizia eu que hoje me apetece José Mauro de Vasconcelos. Não, não é "O meu Pé de Laranja Lima", livro que li numa noite, há muitos anos, e que me levou da gargalhada à lágrima, hoje apetece-me "Rosinha Minha Canoa", livro também belíssimo, que aconselho vivamente a quem o não leu. Tudo isto por causa da "minha Rosa", uma muito querida amiga, que está em Moçambique, a exercer medicina em cooperação, durante 3 meses:

"- AH! Dona Chuva, estou com tanto medo de nascer...
- Bobagem... Vamos, eu ajudo!
Sua angústia renasceu e sua voz saiu meio trémula:
- Mas eu não sei nascer...
Os dedos de Dona Chuva apalparam o dorso e pararam em determinado ponto.
- Deve ser aqui. A casca está bem fininha: vou amolecer mais e você fará também um esforço...
Não disse mais nada. Foi contendo a respiração. Mais e mais. E ainda mais. Sentia que ia estourar. Devia estar quase roxa de tanto esforço. Alguma coisa se lhe abalava por dentro; deviam ser os bracinhos da folha.
A chuva disse novamente:
- Tente outra vez.
Forçou o ar de dentro e uma grande dor a estremeceu.
Parecia que se rachava a casca, de alto abaixo. A ponta de um dos seus braços projectou-se para fora.
- Ai que dor!...Ui! Que frio!...
A chuva riu grosso:
- É assim mesmo. Agora o outro bracinho.
Foi puxando o outro braço da folha e dessa vez já não sentiu doer tanto. E, mesmo, a vida fora da casca assemelhava-se a uma nova aventura: sentiu, então, curiosa sensação.
(...)
- Viu minha filha? Não é assim tão difícil nascer.
- Mas dói um pouco...
Se não doesse, a vida não teria preço. Agora trate de caminhar. Você precisa sair, andar, perfurar a distância que existe até ao outro lado. E você não tem prática, vai levar todo o resto desta noite.

terça-feira, abril 19, 2005

Apesar do B(v)ento e por causa dele (chico buarque)

Apesar de você

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal

Para o André

O André, meu Leal amigo, colocou-me os Links e a foto, creio que aprendi.
Este poema é para ti:

Plenilúnio

As horas pela alameda
Arrastam vestes de seda,

Vestes de seda sonhada
Pela alameda alongada

Sob o azular do luar ...
E ouve-se o ar a expirar -

A expirar mas nunca expira -
Uma flauta que delira,

Que é mais a ideia de ouvi-la
Que ouvi-la quase tranquila

Pelo ar a ondear e a ir...
Silêncio a tremulizar..
Fernando Pessoa

Pacheco, este post é para ti

Tu, que tanto me desafiaste e que, às vezes, até insinuavas que eu tinha um blog secreto, mereces o primeiro link!!!

Gente de São Tomé Posted by Hello

segunda-feira, abril 18, 2005

O essencial é invisívil para os olhos...

O meu sobrinho Bruno, todo sentido, disse-me que não é justo eu ter escrito um post para as minhas sobrinhas, quando elas foram mães e não tinha escrito, ainda nada, para os sobrinhos. Pronto, eu assumo que devia ter tido mais cuidado, com os rapazes (ai que mimados!Eles que nem têm dores de parto, nem outros conhecidos incómodos). Portanto, cá vai, Bruno, acho que vais gostar. Eu, acho-o lindo! Não perdeste com a espera:


"- Adeus, disse a raposa. Vou dizer-te o meu segredo. É muito simples: só se vê com o coração.O essencial é invisívil para os olhos.
- O essencial é invisívil para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se recordar.
- Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
-Foi o tempo que perdi com a minha rosa...repetiu o principezinho, a fim de se recordar.
- Os homens esqueceram esta verdade. Mas tu não deves esquecê-la. Ficas para sempre responsável por aqueles que cativaste. És responsável pela tua rosa.
- Sou responsável pela minha rosa, repetiu o principezinho, a fim de se recordar."

A. Saint-Exupéry (O Principezinho)

Para a Mariana (Ardemares)

A Mariana regressou com o seu ardemares (ainda não sei colocar links!), com um texto onde salienta o poder das palavras, por isso, este é para ela:

"Na India, o poder da palavra é colocado antes e acima do poder de cada deus. É da palavra que dependem todos os deuses, os animais e os homens, é na palavra que se enraízam todas as criaturas.(...)A palavra é imperecível, o primogénito da lei eterna, a mãe dos Vedas, o umbigo do mundo dos deuses. A este primado da sua origem corresponde a sua força"
E. Cassirer

Porque hoje é segunda-feira, apetece-me:

Sim, hoje apetece-me falar das mulheres (eu sei que os homens tb. vão, mas hoje falo de mulheres, pronto!)que, além de cuidar da casa e da família, vão trabalhar muito cedo e deixam os filhos, sabe-se lá por onde!E quem melhor do que Gedeão, que nem era feminista nem nada? Era SÓ Poeta, Cientista e Professor!


Luísa

Luísa sobe, sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.

Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.

Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.

Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga,[x 4]
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga,[x 4]

Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada, [x 3]

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

domingo, abril 17, 2005

Murmúrios de Pensador (2)

Este "murmúrio" é dedicado a dois Homens de quem eu gosto muito, porque são generosos, meigos, amigos, cultos, excelentes profissionais, mas que, ao mesmo tempo, têm um profundo sentido de humor e que me fazem sentir privilegiada por serem meus amigos - O Rui Coutinho e o Martinho.
Os restantes Homens da minha vida, não fiquem com ciúmes, a sua hora há-de chegar!!!!!!


Que liberdade
"Conheci um coração puro que se recusava à desconfiança. Era um pacifista, libertário, abrangia num amor único a humanidade inteira e os animais. Uma alma de escol, sim, não há dúvida. Pois bem, durante as últimas guerras religiosas na Europa, ele retirou-se para o campo. Tinha escrito à entrada da casa: "Donde quer que venham, entrem e sejam bem-vindos". Quem no seu entender terá respondido a este belo convite? Os milicianos, que entraram como em sua própria casa e o estriparam"
A.Camus - A Queda

Bem-Vinda Amiga!

Hoje o dia está cinzento e a cidade está a ser “borrifada” por aquela chuvinha miúda a que vulgarmente se chama “chuva molha tolos”. Se não fosse a actual seca que tem atingido o País e a necessidade absoluta de água, poder-se-ia dizer que era um domingo chato, ou talvez não, porque é um daqueles dias em que apetece ficar em casa, enrolado no sofá a ler um livro, ou a ver um filme, ou simplesmente a deixar passar o temo, e olhar e para a televisão, ou seja, não sair de casa! Mas não, vou sair e vou contente!
Chega a minha amiga Mitó, do estrangeiro, de uma viagem de estudo e vou vê-la! Já tenho saudades! Vamos estar juntos, em casa duns, também, queridos amigos.
Bem-Vinda Amiga!

sábado, abril 16, 2005

Porque hoje é sábado, apetece-me:

Chico Buarque
é um dos meus ídolos, pronto confesso: adoro o Chico, as suas músicas, as suas letras e agora até os seus livros e considero esta canção, que faz parte da "Opera do Malandro" uma das mais belas e heróticas que já conheci. O que é que acham?



Teresinha:
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai

Lúcia:
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai

As duas:
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Lúcia:
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai

Teresinha:
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai

A duas:
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

O sabor da comidinha da nossa Mãe!

Devido a um comentário do Nuno, lembrei-me duma história muito antiga, que mostra, aquele mito (será?) de como alguns homens são fixados no sabor da comidinha da Mãe:

Uma jovem mulher, acabada de casar, esforçava-se por fazer para o seu também jovem marido a comida mais deliciosa possível, só que ele acabava de comer e dizia sempre: querida está boa, mas falta o sabor da comidinha da minha Mãe!
A jovem esposa lá se esforçava outra vez mas nunca acertava, até que um dia distraiu-se e deixou esturrar a comida. Ficou em pânico, mas como já não tinha tempo para cozinhar outra coisa deu a comida mesmo assim esturricada ao marido. Ele comeu com gosto e no fim disse: querida enfim conseguiste dar o sabor da comidinha da minha Mãe!

Profissão "Mãe"

(Este post, que me foi enviado por uma amiga, é dedicado a todas as Mães e sobretudo às minhas sobrinhas Mónica e Joana, que ainda ontem andavam ao meu colo e hoje são Mães do Gustavo e do Rodrigo)


Ana foi renovar a sua carta de condução.
Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão. Ela hesitou, sem saber bem como se classificar. "O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário. " Claro que tenho um trabalho", exclamou Ana. "Sou mãe"."Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. Vou colocar Dona de casa", disse o funcionário friamente. Não voltei a lembrar-me desta história até ao dia em que me encontrei em situação idêntica...A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante."Qual é a sua ocupação?" Perguntou. Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:"Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas."A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar e olhou-me como quem diz que não ouviu bem...Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas. Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.

Posso perguntar", disse-me ela com novo interesse, "o que faz exactamente?"Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:"Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa),.sou responsável por uma equipa (a minha família) e já recebi quatro projectos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas). Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou e pessoalmente foi abrir-me a porta.

Quando cheguei a casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipa: - uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3, do andar de cima, pude ouvir o meu mais recente projecto (um bebé de seis meses), a testar uma nova tonalidade de voz.

Senti-me triunfante. Maternidade... que carreira gloriosa!

Assim, as avós deviam ser chamadas "Doutora-Sénior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas".
As bisavós: "Doutora- Executiva-Sénior".
E as tias: "Doutora - Assistente".

Mande isto às mães, avós, bisavós e tias que conheça.
Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas e companheiras. Doutoras na Arte de fazer a vida melhor !!

sexta-feira, abril 15, 2005

Murmúrios de Pensador (1)

Não quero "armar" aqui, em intelectual (nem noutro sítio quaquer), mas há textos que me fizeram reflectir e me ensinaram muito, que tal partilhá-los? Este, eu acho notável, pela síntese que faz da evolução do conceito de Homem, e é escrito por um pensador Português:

"Com Copérnico, o homem deixou de estar no centro do Universo. Com Darwin, o homem deixou de ser o centro do reino animal. Com Marx, o homem deixou de ser o centro da história (que aliás não possui um centro). Com Freud, o homem deixou de ser o centro de si mesmo (que também nem sequer existe, é apenas um lugar vazio, uma brecha, uma voragem)"
Eduardo Prado Coelho

Sartre e a Liberdade, sempre! (2)

"Estamos só e sem desculpas. É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e no entanto livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer" J.P. Sartre

Quando eu for grande...

Sim, acalmem-se os meus possíveis visitantes, porque isto ainda vai ser um blog a sério, com links, fotografias,relógio a "bater" horas certas, etc.(Pacheco, apesar dos teus sábios conslhos, não consegui acertar o relógio). Portanto, no post anterior, vejam, por favor, uma grande fotografia dum jovem jogador do sporting a marcar um belo golo (Luís não te rias por eu estar a falar de futebol!!!) e ao lado direito deste blog, vejam os links dos blogs que eu visito todos os dias, há, e já agora, são quase 9h da manhã!
Este fim de semana vou ter "explicações" com um jovem de desassete anos, o Pedro, que tem um blog desde os desasseis, www.ailhadodiaantes.blogspot.com e que sabe tudo sobre estes assuntos.
Depois, "me aguardem"!

quinta-feira, abril 14, 2005

Sporting!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Pergunta inocente: Por que é que perdem tantas vezes com as equipas nacionais?

Este País consome-(me/nos/vos)

É verdade, hoje, está toda a malta contente com a inauguração da casa da música! Eu também, fico sempre contente quando acontece qualquer coisa que nos eleva, mas oh meus amigos! 60 milhões de derrapagem do orçamento inicial? Eu ei, eu sei, "parece um diamante no meio do deserto"! Mas caramba, porque é que neste País é sempre assim? Ele é o CCB, ele é a EXPO, ele é TUDO? Ninguém sabe fazer contas? Nem ministros, nem gestores? Será que é uma fatalidade? Karma nosso?
Quantos hospitais, ginásios, estradas, pontes, etc., se faziam com estas derrapagens?
Vá digam que eu estou a fazer demagogia, pronto, se calhar estou, mas então ensinem-me como fazer para que este País não me consuma...
Ou então digam-me se, por ventura, alguém meteu, quem sabe, uns "diamantes" no bolso?

Pessoa, sempre!

Saber? Que sei eu?
Pensar é descrer.
- Leve e azul é o céu -
Tudo é tão difícil
De compreender...

A ciência uma fada
Num conto de louco...
- A luz é lavada -
Como o que nós vemos
É nitido e pouco!

Que sei eu que abrande
Meu anseio fundo?
Ó céu real e grande,
Não saber o modo
De pensar o mundo!

Fernado Pessoa
4/11/1914

"Todo o silêncio é bordado de murmúrios"

E porque quando me calo, não calo, só sofro
E porque quando falo, se falo, é pior
Pronto, cá está, crei o blog!
E agora será para tudo o que me der na real gana: confissões, (des)ilusões,
(con)tradições, murmúrios, gritos, desabafos, poesia, (des)entendimentos, problemas, paleio de chacha, conversas com amigos, enfim, tudo o que tenho direito.
Espero a vossa visita, as vossas opiniões,comentários,críticas,etc.