Sabes onde fica? Eu não conhecia, nem sabia que existia uma terra com este nome, e, era uma pena. Gimonde, é uma terra lindíssima, serena, verdejante, cheio de locais mágicos, onde o tempo parece ter parado. Acho que parou mesmo, para contemplar o rio Igrejas, na margem do qual os habitantes locais fazem as suas culturas de sobrevivência. Aqui, as cerejeiras, estão de ramos pendentes, num festival de verde e vermelho, porque pejadas de cerejas, praticamente endémicas, que ninguém apanha nem vende. Em Gimonde, há uma árvore altíssima, onde todos os anos, uma cegonha vem fazer ninho, mas, talvez , devido à idade, a árvore secou. Então, a "Junta de Freguesia e os "embientalistas", como me explicou o Sr. João, mandaram construir uma estrutura de ferro, "que até ficou bem cara", para segurar a árvore e salvar o ninho. Fiquei maravilhada, mas ainda não refeita da beleza desta terra e das surpresas que ela me estava a proporcionar, aparece Catarina (perguntei-lhe o nome), mulher do Sr. João, empurrando, com dificuldade, um motor de rega, que eu já não via há mais de vinte anos. Meto conversa e pergunto-lhe porque é que ainda trabalha, ela diz-me que tem de trabalhar para comer e agora tem de ir regar as batatas porque "aqui a terra é escrava" e a "reforma é tão pequena, mal dá para os seis medicamentos que tomo todos os dias" - tensão, artroses, varizes, estômago e sei lá que mais! Peço-lhe que me deixe tirar uma fotografia, ela diz que sim, mas pergunta para que quero eu a fotografia duma velha? Quantos anos tem?, pergunto eu. Fico sem chão quando ela me diz a idade - é mais nova do que eu. Faço-lhe notar isso, ela ri-se e diz-me - "trabalho no campo de sol a sol e nunca usei cremes..." Não sei o que lhe hei-de dizer, mas ela sabe, e diz-me "espere aí um instante que lhe vou buscar cerejas, deram-me umas quantas e chega para as duas". Protesto, digo que quero comprar, mas ela nem me ouve, vai buscar as cerejas e dá-me um saco delas - lindas, vermelhas carnudas. Eu agradeço-lhe, e à falta de melhor, abraço-a com força, e sento-me, junto ao rio, a comer as cerejas, enquanto vou observando o voo da cegonha à volta do ninho. Sim, eu não conhecia a Catarina, nem sabia onde ficava Gimonde. Agora sei e não vou esquecer nunca - é uma aldeia do “Parque Natural de Montesinho”, ali bem junto do meu coração.