A Rota da Seda
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porque todo o silêncio é bordado de murmúrios...
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Sempre tive medo de quedas. Tenho a mania que a maior parte dos velhos morre de quedas. Tento diminuir os riscos, tanto quanto posso: desde que me aposentei, passei a usar sapatos confortáveis e a olhar com atenção para o sítio onde ponho os pés, mas, enfim, caio na mesma, como toda a gente. E então como caio! Uma amiga minha ganhou uma viagem à Turquia, para duas pessoas, da promoção que a "Bertrand" e "Ciclo dos Leitores" estão a fazer. Generosamente, perguntou-me se eu queria ir com ela. Aceitei. Tudo correu bem, até ao último dia - O programa está bem organizado, os hotéis variam entre o bom e o razoável, a comida é abundante em legumes, queijos, iogurtes e o pão é bom. A Capadócia é única, irreal, com uma paisagem absolutamente louca e fantástica, que, só de olhar para ela, achamos que a Natureza, ali, caprichou, para nos surpreender. Mas, no último dia, choveu torrencialmente, e, na ânsia de cumprir o programa lá fomos visitar a parte antiga de Antalya. Foi então que começou a “malapata”: já quase de regresso, pelo fim da tarde, depois de visitar "As portas de Alexandre", a minha amiga caiu no mármore molhado, e fracturou uma mão, que, de imediato começou a inchar. Drama e saco de gelo em cima da mão direita. Mas isto não ficou por aqui, quando, sempre debaixo de chuva, íamos apanhar o autocarro que nos levou ao aeroporto, eu, com os tais “sapatos confortáveis”, também escorreguei, no mármore molhado, caí e parti o braço, junto ao pulso. Drama e saco de gelo, em cima da mão esquerda, até ao aeroporto. Ali, já depois do check-in, fui ao posto médico. Quando o médico viu o braço, disse: “Madame don't fly”. E eu de imediato, em absoluto desespero: “I fly, fly!” Ele com ar sério: “Madame can't fly!” E eu sempre: “I fly, fly!” Já se imaginaram a ser operados na Turquia, sem conhecer lá ninguém e sem entender nada da língua? Inimaginável! Na minha recusa em ficar, não estava em causa a competência técnica, ou coisa que o valha. Era outra coisa, naquele momento, queria-me com os meus. E numa de bravata, talvez inconsciente, pensei que preferia morrer no avião, a ficar ali. Assinei o termo de responsabilidade, apanhei o avião, como todos os outros e, saco de gelo em cima do braço, na tentativa de congelar a dor e o desespero, rumei para Portugal. Só ansiava chegar a Coimbra, juntos dos médicos amigos. Assim, quando por volta das sete da tarde, entrei na sala de operações dos HUC e na mesa operatória, me vi rodeada da equipa e daquela parafernália toda, tipo filme de ficção científica, e enquanto me espetavam agulhas aqui e acolá, eu ia pensando: mas porque é que eu, que sou uma “caguinchas”, que devia estar em pânico e com o coração apertado, estou tão calma e até absurdamente feliz? Eu sei, eu sei - eles iam dizendo, na minha língua: “está tranquila, vai tudo correr bem!” E foi assim que eu, que ainda nem tinha chorado uma lágrima, quando me acordaram, depois da intervenção e me vi rodeada daqueles rostos amigos e competentes, me apeteceu chorar, mas de felicidade!
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