Eu tenho uma fantasia, bem, tenho muitas, mas esta é recorrente e "dá-me com força", sobretudo quando estou nos Açores, que é a de realizar, ali, um filme sobre a origem do mundo, ou melhor dizendo, do Paraíso.
Já tenho o guião "feito", aliás, até já escrevi um conto sobre este assunto, para os meus sobrinhos quando eles eram pequenos.
Chamava-se "As Ilhas do Quase", título que advém do facto dos primeiros marinheiros que as descobriram, terem ficado tão deslumbrados que ao descrevê-las, diziam que era o local "quase perfeito" para ser o paraíso, na Terra. Ora imaginem: primeiro "take", noite no vale das Furnas, junto das caldeiras fumegantes, a câmara vai deslizando suavemente sobre as fumarolas,acompanhando o percurso caprichoso, ondulante e fantasmagórico das colunas de fumo branco, na noite negra e silenciosa.
Depois e enquanto o dia vai clareando aparecem em cena, em "close up", as caldeiras ferventes, borbulhantes.
Ouve-se o som da Caldeira Pero Botelho, aquela que,simultaneamente, me aterroriza e atrai com aquele "ronco visceral" do magma em ebulição, que vem mesmo do centro da Terra (acho eu, na minha ignorância geológica. Rui Coutinho, ajuda-me!). Entretanto, do mar, de onde tudo vem, começam a sair seres fantásticos, do tipo sereias e tritões (os Humanos virão mais tarde), que brincam nas lagoas e habitam as cavernas abertas na rocha negra, para isso, vou situá-los na
Gruta das Torres, no Pico, aí mesmo, nesse fantástico e grandioso veio lávico. A câmara vai mostrando o caminho antes percorrido pela lava incandescente e detém-se na formação chamada de "Mona Lisa", depois continua, sempre em "slow motion", em busca do lugar do sagrado, da Hierofania, ou seja o sítio onde os Deuses habitam e os Homens celebram a sua ligação ao transcendente. Ah, esse, vou situá-lo no Algar do Carvão, na Terceira. Trata-se duma poderosa formação vulcânica, chaminé vulcânica (?), revestida de formações siliciosas. Aqui, a câmara mostrará cada estalactite, únicas no mundo pelas suas características geoquímica, como pendentes de candelabros presos ao tecto, nesta espécie de Catedral Gótica, onde um dia, ouvi, por coincidência, um Italiano que não resistiu a cantar uma área de Ópera. Foi um momento único, sublime, fiquei arrepiada.
Bem, por hoje, dada a limitação de espaço da crónica, o "filme" fica assim. Só mais uma coisa, ainda nem falei com ele, mas a música sairá da flauta do Gil Alves.