É a Mãe de una amigos meus. Nasceu e viveu no
Baraçal, uma aldeia perto do Sabugal e lá teve 8 filhos: quatro rapazes e quatro raparigas. Há 61 e anos atrás, e estando grávida do José, o filho mais novo, ficou viúva, com 39 anos. É despiciendo falar dos trabalhos homéricos e do pulso de ferro, que foi preciso ter, para criar sozinha, tão numerosa prole, num tempo em que não havia rendimento mínimo nem apoio social. Mas criou-os e bem, apesar da contingências do País, do local e da época. Dali, do Baraçal, daquela aldeia do interior, a maior parte dos seus filhos, à medida em que foram crescendo, foram emigrando. Partiram para diversos pontos do mundo, mas preferencialmente para França. Em Agosto, a velha casa de granito, tornava a ficar cheia, mais cheia, porque começaram a vir também os netos, mas Agosto os trazia e Agosto os levava. Nunca poderei esquecer a figura da Senhora Miquelina, vestida de negro, na varanda de pedra, a vê-los partir. Actualmente, rodeada de cuidados e de carinhos, vive em Lisboa, com uma das filhas. No dia 22 de Dezembro, festejou os 100 anos de vida, acompanhada e mimada por filhos, netos bisnetos e amigos.
Olho para esta mulher e não posso deixar de me comover e também de ter esperança. Ela, que atravessou o século passado, de certo modo, e, pelo menos para mim, representa a história do País onde vivemos, na interioridade, na emigração, na luta pela sobrevivência, e também, porque apesar de tudo, conseguiu com dignidade e eficiência, levar a bom porto, tão difíceis desígnios. Longa vida, Dona Miquelina!