Odeio aquele lugar, pelas razões que já disse
aqui, e no entanto, frequento-o com bastante assiduidade. Odeio aquele homem, mas, fico perante ele, como não fico perante nenhum outro homem - de boca aberta! Ele, de máscara na cara, sádico, faz-me coisas que nunca nenhum outro homem me fez, ou seja, enche-me a boca de tubos, aspiradores e brocas. Já me espetou agulhas, ferros, parafusos (cavilhas?), nos queixos e nas gengivas, e eu de boca aberta, e, pasmem, calada! Deito-me na marquesa dele, fecho os olhos perante toda aquela violência e quando ele liga a broca, ouço o ruído insuportável, de carrinhos telecomandados a zanzar dentro da minha boca. E ele vai espreitando, falando, brocando e aspirando. De vez em quando diz: - Bocheche! Hoje, disse-me que era melhor colocar uma coroa de resina num molar. E ali fiquei eu, quase duas horas, naquele suplício. No fim, ainda por cima, pago-lhe, e não é pouco! Já o disse - eu odeio aquele homem, mas volto sempre, porque o acho competente, no seu "sadismo". Bem, apesar de tudo, também o acho simpático! Ó deuses, porque é temos tantos dentes?